O MEU GOSTO POR EUGÉNIO DE ANDRADE...
ADEUS
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquina sem esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias:
os teus olhos são peixes verdes
E eu acreditava.
Acreditava,porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo:
meu amor já se não passa absolutamente nada.
E no entanto,
antes das palavras gastas,
tenho a certeza
que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
3 Comments:
Eu coneci Eugênio de Andrade já com uma certa idade. Essa estátua retrata que idade?
... no entanto, os poemas dele, reconheço, não têm idade. Sempre gostei muito de lê-lo. Em tempos escrevia muito poema. Pena que agora não haja tempo... nem esteja nesse tempo...
4:09 PM
Tive o prazer de ter sido convidado por ele para apresentar os meus livros na sua Fundação.
Antes, levou-me ao seu escritório para me oferecer uma obra autografada.Depois, foi a vez da Poesia.
Era um sábado e chovia na Foz.
Para ele, também um cravo vermelho.
E a releitura da sua obra.
9:48 AM
Gosto dele tb.
8:59 AM
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